"O mais incompreensível sobre o universo é que ele seja compreensível."
— Albert Einstein, Ideas and Opinions
Introdução: A Surpresa do Entendimento
Imagine um mundo em que as leis
da física mudassem de um dia para o outro. Em que o sol não nascesse amanhã
simplesmente porque “decidiu” não nascer. Um caos onde nada fosse previsível,
onde experimentos científicos nunca se repetissem, onde a matemática não
descrevesse nada real.
Esse mundo seria ininteligível.
E, felizmente, não é o nosso.
O fato de que podemos entender o
universo — de que equações matemáticas preveem com precisão a trajetória dos
planetas, o comportamento das partículas ou a expansão do cosmos — é, por si
só, um mistério racional. Não um milagre no sentido sobrenatural, mas um
dado surpreendente: por que o universo obedece a padrões racionais?
Este artigo não busca “provar
Deus”. Busca algo mais radical: questionar o pressuposto silencioso que
torna a ciência possível — a crença de que o universo é ordenado, racional e,
acima de tudo, inteligível.
E se esse pressuposto não for
fruto do acaso, mas um sinal de propósito?
1. O Milagre da Inteligibilidade
A ciência moderna repousa sobre
uma fé silenciosa: a natureza é legível.
Newton não inventou as leis do
movimento — ele as descobriu. Assim como um detetive interpreta pistas,
o cientista decifra a linguagem do cosmos. Mas por que há pistas? Por que o
universo não é caótico, aleatório, incoerente?
O físico Eugene Wigner, em
seu ensaio clássico “The Unreasonable Effectiveness of Mathematics in the
Natural Sciences” (1960), chamou isso de “a eficácia não razoável da
matemática”. Por que símbolos abstratos, criados em nossas mentes,
conseguem descrever com precisão a realidade externa? É como se o universo
tivesse sido escrito em código matemático — e, por alguma razão, nós temos a
chave para decifrá-lo.
Mas se há código, há também um codificador?
2. A Ciência nasceu de uma Cosmovisão Cristã
Ao contrário do mito popular que
coloca fé e ciência em guerra, a história revela outra narrativa: a ciência
moderna nasceu no seio da tradição cristã europeia.
- Johannes Kepler via seu trabalho como
“pensar os pensamentos de Deus depois d’Ele”.
- Isaac Newton acreditava que as leis físicas
eram reflexos da mente divina.
- Gregor Mendel, monge agostiniano, lançou as
bases da genética estudando ervilhas em seu mosteiro.
- James Clerk Maxwell, pioneiro do
eletromagnetismo, via a matemática como um espelho da racionalidade do
Criador.
Por que isso importa?
Porque sem a convicção de que o
mundo fora criado por um Deus racional, não haveria garantia de que ele fosse
compreensível. A teologia cristã forneceu o solo intelectual no qual a
ciência floresceu.
3. O Que Acontece Quando o Propósito é Negado?
No cenário contemporâneo, muitos
defendem que o universo é apenas um acidente cósmico. A vida, um acaso químico.
A mente, um epifenômeno sem valor objetivo.
Os materialistas respondem à
crítica dizendo que, mesmo que nossas faculdades cognitivas tenham se
desenvolvido apenas para sobrevivência, elas precisam ser
suficientemente confiáveis para permitir adaptação ao ambiente. Ou seja,
cérebros que constroem modelos mais corretos da realidade têm maior chance de
perpetuar seus genes.
Essa objeção é relevante. No
entanto, levanta um dilema: confiabilidade adaptativa não é o mesmo que verdade
objetiva. Um modelo pode ser útil sem ser verdadeiro — como ilusões cognitivas
que nos ajudam a sobreviver, mas não descrevem fielmente a realidade.
Foi esse ponto que levou C.S.
Lewis a afirmar:
“Se o meu
pensamento é apenas o movimento de átomos no meu cérebro, por que deveria
acreditar que ele é verdadeiro?” (Miracles, 1947)
E o biólogo J.B.S. Haldane
a observar:
“Se o
determinismo materialista for verdadeiro, então não há razão para acreditar que
minhas crenças, incluindo o materialismo, sejam verdadeiras.”
O materialismo, levado às últimas
consequências, ameaça implodir a confiança na própria razão.
4. Inteligibilidade como Indício de Design
Voltemos à questão central: por
que o universo é inteligível?
Há três grandes respostas:
- Acaso: a ordem cósmica é pura sorte.
- Defensores dessa posição frequentemente recorrem à
hipótese do multiverso, argumentando que, se existem infinitos
universos, não é surpreendente que um deles seja ordenado.
- Problema: o multiverso permanece altamente
especulativo e sem confirmação empírica.
- Necessidade: as leis da natureza não
poderiam ser de outra forma.
- Essa é uma tese filosófica respeitável: talvez
haja uma “lógica interna” inevitável que determina como a realidade deve
ser.
- Porém, não há demonstração convincente de que as
leis precisem ser exatamente como são. Poderiam ser diferentes, inclusive
caóticas.
- Projeto: o universo é inteligível porque foi
concebido para sê-lo.
- Essa hipótese vê a racionalidade do cosmos como um
reflexo de uma Mente comunicadora.
- Aqui, a noção filosófica de Logos ganha
força: o mesmo princípio de racionalidade que estrutura o universo é
também aquilo que o torna acessível à razão humana.
O físico Roger Penrose
resumiu essa intuição ao afirmar:
“O universo
parece ter sido criado com um propósito — e esse propósito inclui a
possibilidade de ser compreendido por criaturas como nós.”
5. A Ciência Precisa de um Fundamento
A ciência pode nos dizer como
as coisas funcionam. Mas não pode explicar por que o universo é
inteligível.
Se o cosmos fosse uma obra de
arte, a ciência seria o crítico que descreve pinceladas e cores. Mas apenas o
artista pode explicar por que a obra existe.
Da mesma forma, a ciência
descreve as leis naturais, mas não explica por que essas leis são racionais,
elegantes e acessíveis à mente humana. Essa pergunta pertence à filosofia. E,
talvez, à teologia.
Conclusão: Não Por Acaso
O nome deste blog não é apenas
título, mas uma hipótese: o universo não é um acidente.
O fato de que podemos fazer
ciência — perguntar, testar, entender — é talvez a maior evidência de que a
realidade foi moldada para ser compreendida.
Não precisamos de provas
absolutas, mas de coragem para perguntar:
- E se o cosmos for uma mensagem?
- E se as leis da natureza forem uma carta escrita em
linguagem matemática?
- E se a inteligibilidade do mundo for um convite
para conhecer a Inteligência que o sustenta?
Talvez o maior milagre não seja
um corpo ressuscitado, mas uma mente capaz de perguntar “por que estou
aqui?” — e de reconhecer que a resposta pode ser não por acaso.
📌 Palavras-Chave
inteligibilidade, ciência e fé,
projeto inteligente, Newton, cosmologia, racionalidade, propósito
📚 Referências
- Albert
Einstein — Ideas and Opinions
- Eugene Wigner — The
Unreasonable Effectiveness of Mathematics in the Natural Sciences
(1960)
- C.S.
Lewis — Miracles (1947)
- J.B.S. Haldane — Possible
Worlds (1927)
- Roger Penrose — The Road to
Reality (2004)
- John C. Lennox — God’s
Undertaker: Has Science Buried God?
- Peter Harrison — The Bible,
Protestantism, and the Rise of Natural Science

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